Sobre o livro: 2019 / Todos em Krasnopolye chamavam Motya de artista e ninguém o chamava de outra coisa. Ele era pequeno, ruivo, sardento, com nariz comprido de judeu e olhos grandes e sempre tristes. Trabalhou no clube como designer de cartazes de filmes, que mudavam quase diariamente, pois o filme não era exibido na cidade há mais de um dia, pois só havia espectadores suficientes para uma exibição e meia. Apesar da transitoriedade da vida de suas criações, Motya não brincava e pintava cada novo pôster como se estivesse criando uma tela imperecível. O clube tinha apenas duas molduras com tela esticada para pôsteres, e Motya, ao pendurar um novo pôster, retirou o antigo e imediatamente o utilizou para o próximo. Ele carregou a moldura antiga para trás do clube, colocou-a perto da escada que levava à cabine do cinema - embaixo dessa escada Motya tinha um pequeno armário para tintas - pegou suas ferramentas e começou a destruir sua obra-prima anterior, cobrindo-a com uma camada de primer . Depois de terminar de preparar a tela, Motya sempre se voltava para mim e, sorrindo serenamente como uma criança, dizia: “Havia um artista, não havia artista”..